Com frequência as pessoas no hospital sentem que estão sendo chamadas à toa. Com uma rotina bastante atribulada, às vezes campainhas tocam e a queixa não parece condizente com o que está acontecendo ali, concretamente. Em situações assim, há algumas falas que aparecem mais vezes, à partir da Enfermagem, principalmente:
“Aquele paciente me chamou não sei pra quê…”
“Aquele paciente me chamou só pra isso…”
“Acho que ele só queria conversar…”

Nos exemplos acima, procurei organizá-los pelo quão reveladores eles podem ser. Às vezes a solicitação não diz nada, outrora parece um exagero e noutras vezes fica claro que é um paciente que quer apenas conversar mais que os outros.
Mas afinal, o que acontece?… O que faz um paciente internado para cuidar da saúde chamar sem necessidade?
Uma necessidade não concreta, é isso.
O que acontece no hospital acontece também em outros contextos e se trata basicamente de tentar chamar a atenção para uma coisa que não é aquela mais evidente. É como se dentro da queixa tivesse outra queixa (que se chama de “latente”), que por sua vez é mais importante para o paciente.
Por exemplo… o paciente está em seu quarto com uma sonda e chama a enfermeira para perguntar se está tudo normal. Ela poderá dizer a ele que está e pronto ou, explicar para o paciente que aquilo é dessa ou daquela forma. O enfermo então, se acalma misteriosamente…
Na verdade, não há mistério, se não em relação ao que moveu o paciente a chamar para ver se aquilo estava normal. Com frequência surgem pacientes cuja preocupação é se a cirurgia deu ou não certo e se isso pode ou não afetar-lhes a sobrevivência. O que às vezes não é claro nem para o enfermo é o receio dele com relação ao seu prognóstico (que é o que se espera do desenrolar da doença).
Não dá para dizer que é fácil lidar com esse tipo de situação ou, tirar de letra. Aquilo que ocorre afetivamente com as pessoas pode ser uma fonte de sofrimento para elas e um verdadeiro transtorno para a equipe. Tratar um paciente que “chama para conversar” ou toca a campainha por “coisas bobas” pode implicar em ter que desenrolar um grande novelo e em alguns casos, requerer uma assistência psicológica também ora do ambiente hospitalar.
Se o paciente chama muito e a razão disso não é suficientemente clara, é importante considerar levar o caso a outras pessoas, discutir e verificar se não é o caso de pedir uma avaliação do estado mental dele.
Saúde mental também diz respeito à saúde, pode também implicar sofrimento e também merece ser devidamente respeitada e cuidada. Há profissionais que estudaram e estudam para isso e eles estão lá para serem requisitados.
(publicado originalmente em 24 de janeiro de 2017)
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